Sobre Metagame em RPG de mesa.




Sobre Metagame. Esse é um assunto simples mas que se enrolar vira ad infinitum. 

Então, antes de mais nada, é preciso entender a definição do termo (segundo a IA do google, porque todo mundo confia cegamente em IA e não usa mais dicionário): 

  • Em jogos RPG:
    Um jogador pode usar informações externas para tomar decisões que não seriam lógicas para o seu personagem dentro do jogo. 
Em resumo: O metagame é o estudo e a aplicação de estratégias, além das regras do jogo, que são utilizadas pelos jogadores para obter vantagens, especialmente no contexto competitivo. 

Enfim, acho que todo mundo que clicou nesse link do blog que vos fala já vai saber o que é Metagaming no contexto de RPG de mesa. Ou seja, usar conhecimento fora do personagem, fora do jogo, para obter vantagens dentro do jogo. É bem simples. 

O que não é tão simples é entender que não se trata de maldição, muito menos de uma bênção. É apenas um recurso a ser usado no jogo. 

Antes de começar a espumar pela boca, caro leitor, paremos para pensar e refletir sobre isso que eu falei. Se é considerado uma ferramenta, então quer dizer que ela deve ser usada quando necessário? Minha resposta broxante é: Talvez, depende, quem sabe. 

E isso entra na questão do ad infinitum que comentei acima. O que mais tem online é gente tentando estar certo. Às vezes ninguém está, às vezes um lado está mas a gente está torcendo para o outro lado só porque gostamos da mesma cor de camisa. E às vezes todos estão certos mas não conseguem parar de brigar para concordar.

Estar certo ou errado depende do ponto de vista. E todos estão errados, independente da de ser verdade ou não o que tenta dizer, quando não conseguem expressar seu ponto de vista de maneira civilizada e traduzível para seres humanos com capacidade de socializar através da linguagem, e então  preferem gritar a sua verdade aos quatro ventos sem se importar com a dos outros.  Isso é geral, isso é constante e isso é relembrado a todo o momento, mas nada muda. 

E é esse o ponto também sobre o metagame. Há como todos estarem certos quando condenam ou apoiam o seu uso. Não porque cada mesa é única e especial aos olhos do seu Deus do cereal matutino preferido. Mas sim porque cada sistema e estilo de aplicar suas regras encara seu uso de maneira diferente. 

A primeira coisa que se deve perguntar em qualquer discussão é: "Em qual contexto você está aplicando isso que está tão fervorosamente a favor ou contra de ser usado em mesa?". A partir daí, tudo vai fazer sentido. 

Quando alguém chegar e te falar "Eu narro esse sistema narrativista aqui em que o que mais importa é a história, imersão do personagem, seu extenso background e ligação intima entre o jogador, o personagem  e o mundo que eu criei" chega a ser até sacanagem tentar empurrar metagaming no jogo. Se o Narrador, escritor e futuro vencedor de Oscar de melhor roteiro considera a sua história e a dos coleguinhas mais importante do que o sucesso dos personagens e os outros jogadores estão dentro dessa ideia e querem sim se sentir dentro dessa maravilhosa trama épica enquanto atuam, choram, satisfazem seus desejos dramatúrgicos em toda a sua complexidade e profundidade emocional, meter um metagame na brincadeira é motivo para banir quem está avacalhando. Pense nisso. uma brincadeira LARP histórico de 200 anos atrás com temática de vampiro,  representando uma festa à fantasia em um dia antes de um grande evento histórico. Aí vai o  maluco no google olhar detalhes sobre o que vai acontecer e desperdiça horas de maquiagem, guarda roupa e fotos no insta de uma galera só para dizer que ganhou. 

Já se seu jogo é aquela arena de se embolar no chão na porrada, com táticas, poderes explosivos e monólogos épicos. Ou seja, um jogo de jogador Vs jogador ou até mesmo jogador Vs mestre, aonde a habilidade do jogador e o conhecimento dele sobre as regras e o campo de batalha vai fazer toda a diferença, se utilizar de metagame pode ser considerado usar trapaça. Especialmente se os outros competidores não estiverem usando desse recurso. Mas varia. Os famosos combeiros adoram um metagame, um manual de otimização de personagem feito por aquele youtuber que faz caras e bocas e mete aquele título especial sobre como a sua versão do combo destrói os inimigos e quebram o sistema. Se você clicou naquilo, é porque te interessou, cada um no seu lado do algorítmo. Se o mestre e os outros jogadores aceitam, não tem problema. Mas se não foi combinado antes, não faça isso, seja digno de seu potencial, gafanhoto.  Pense em uma situação em que o combeiro já sabe pelo canal do  tatuogrotormenteiro24 que se combinar X do suplemento 25 com Y do suplemento 43 vai dar um poder de 250 d20 no coleguinha que combinou previamente com ele e com o mestre que só podia usar o básico do sistema para aquele combate irado de 12 horas rolando dado. Impossível não reclamar muito no reddit depois dessa. 

Agora, se seu jogo for baseado inteiramente em desafios ao jogador e não especificamente ao personagem, como são em jogos de investigação (os de verdade, com pistas e perigos que estimulam o jogador a pensar, não os de rolar dados de porcentagem para achar dicas) ou aquele bom e velho oldschool que exige aos jogadores a pensarem como melhor agirem em determinado problema que pode significar a vida ou morte de seu personagem, o metagame é estimulado e não condenado. Imagine chegar ao ponto de dizer para o cara que achou a solução para a caverna não inundar por usar seu conhecimento que aprendeu na quinta vez que repetiu hidráulica na faculdade que ele não poderia usar isso porque o guerreiro dele tinha 6 de inteligência e não teria como nem saber que água molha. É, sem trocadilhos, a ultima gota. 

Por isso o "depende" lá de cima. Cada estilo e sistema lida de uma forma diferente sobre metagame. Assim como lidam diferente com uma complexidade de outras coisas que se esclarecidos previamente, evita muita discussão idiota. Então, não tem como entrar em discussão com ninguém se a pessoa não explica antes de onde ela está vindo. Ou seja, qual a sua linha de raciocínio para se chegar àquela conclusão. Discussão nenhuma nesse sentido será válida se você quiser aplicar uma lógica de um estilo, de uma mesa, em outro. Especialmente se quiser generalizar para o mundo a sua experiência individual. Não vai funcionar, amiguinho. Forçar um argumento quadrado em um estilo de jogo redondo, no mínimo vai deixar ele injogável, intragável e, principalmente, enfadonho. 






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