Estética em detrimento de substância. O ouro do tolo.
Vi esse post sobre Vornheim ser um suplemento que contém mais estética do que substância e isso me fez pensar sobre como o visual e apresentação em RPG é atraente.
Como já disse em outro post , é muito fácil ser enganado no mundo do RPG de mesa, especialmente se você é iniciante, depende de indicação de outros rpgistas e não tem um filtro para avaliar se o que te recomendam é realmente bom, se é fanboyismo cego ou se é só outra pessoa que também foi enganada e está encantada com a fumaça e espelhos dos fórums de RPG.
Mas não tem como culpar quem cai nas lorotas, pelo menos não a princípio. Muitas vezes (hoje em dia, na maioria das vezes) a estética é a primeira coisa que atrai em um produto e infelizmente isso é o suficiente para enganar os tolos e os desavisados. O rpgista não pode ver um livro de RPG bonito, um exemplo raso de como ele "inova", que já compra, tira várias fotos com filtros para postar no Instagram, fala em fórums de RPG até babar sobre como ele é a coisa mais revolucionária e maravilhosa que existe, que os 70$ (dólares) que pagou nele valeu demais, que está louco para jogar ele com seu grupo e se alguém fizer alguma crítica é porque é hater e não sabe seguir o progresso.
Esse tipo de produto é cada vez mais comum, porque vende muito e vende fácil. É um tipo de produto que atrai um público bem específico: Geralmente que não gosta muito de investir tempo em leitura e aprendizagem, nem na prática do jogo, mas que gosta de coisas novas e coloridas que prometem revolucionar o gênero a todo instante, que adoram ter algo novo para se identificar toda semana e espalhar aos quatro ventos da internet e que acham lindo ter uma prateleira cheia de livros coloridos e que ficam super bem em fotos.
Você não consegue deixar um paredão de texto monocromático cheio de regras bonito em foto, não é mesmo? Você também não consegue explicar em fotos ou em frases de efeito porque um sistema de RPG é realmente bom e que compensa comprar, ler, aprender e jogar com os amigos. Uma imagem rosa choque com o fundo preto e um goblin esquartejado formando um crítico em um d20 é muito mais eficaz para isso.
Mas veja bem, eu não estou tirando a importância de um bom design visual, não estou desqualificando uma boa arte, um layout simples de acompanhar. São elementos importantes pelo que eu disse acima sobre primeiras impressões. O problema real é quando esses elementos substituem a parte mais importante de um livro de RPG, que são as regras. Não existe jogo sem regras. E um jogo bom precisa de boas regras. Não precisa de regras inovadoras, precisa de regras úteis, que fazem o jogo funcionar e ser divertido. Mas infelizmente, isso está cada vez mais raro.
Se você não souber aonde procurar e a quem ouvir, você vai encher a sua prateleira desse tipo de livro, pois não tem uma rede social com o algoritmo afiado que não te apresenta a todo minuto uma capa épica de livro de RPG representando tudo que você quer no jogo. Mas quando você tem um tempo, o cheirinho de novo já não te inebria e você senta a bunda na cadeira e para para ler, nota que aquelas belíssimas imagens tem um letramento no texto que faz seus olhos sangrarem, que as regras não são nada mais do que uma completa piada incompreensível e/ou simplória, que o jogo não é jogável para mais do que uma oneshot e que é impraticável no todo quando se tenta somar as partes vazias e deploráveis.
O movimento artpunk chegou a uns anos mesmo para ficar. Bom para eles, eu acho válido ter livros de mesa bonitos que reforçam o seu estilo de vida geek descolado de ser. E infelizmente esses livros costumam não ser nada mais do que isso, uma placa de geek descolado com bom gosto em arte e música. Não digo que não há exceção, pois há sim . Mas todos costumam sofrer dos mesmos problemas, mesmo alguns se salvando em conteúdo.
O caso do Vornheim é um que o resultado é de médio para baixo, bem longe da enxurrada de elogios que o livro recebia quando foi lançado lá em 2009 e até anos depois. O livro foi praticamente o fundador do estilo Artpunk em OSR. Depois disso vieram, e ainda são lançados diariamente, projetos de arte com o selo OSR até hoje. Eu mesmo achava o livro genial, usei algumas vezes, mas depois vi outros livros que davam muito mais suporte e que não dependiam da minha interpretação o tempo todo para funcionar. Vornheim tem uma estética agradável, mas uma substância pífia. O livro é curto, promete várias inovações, apresenta realmente algumas, mas que não são práticas. Você acaba vendo, testando, achando o máximo, mas depois de um tempo volta para o jeito antigo pois é mais fácil, rápido e prático. Há sim partes do livro boa, como algumas tabelas, o conceito de alguns locais e NPCs interessantes. As artes do livro são ousadas, a temática inusitada para a época e o texto chega mesmo a te inspirar. Mas toda boa obra de ficção nos inúmeros formatos já fazem isso. Quando eu compro um livro de RPG eu quero que ele facilite minha vida na prática de jogo, não dificulte. Não quero só inspiração, quero algo jogável. E, de preferência, prático.
E esse é meu ponto com esses livros. Se eles só forem bonitos, podem fazer meu coração bater mais forte, arrebatar meu olhar, mas se não dão jogo, nem quero.
Boas observações, considero pertinentes.
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