O RPGista é mal educado (Sim, é clickbait)


 

O RPGista é mal educado. Sim, ele é, mas não do jeito que você está pensando.

Mal educado no sentido de falta de conhecimento para a forma que ele consome conteúdo de RPG e de compartilhar essas informações com outros RPGistas. Não em ser grosseiro (sim, alguns são mesmo, mas não é o foco desse post.)

Quando um iniciante entra no hobby, ele muitas vezes não sabe como adquirir o conhecimento necessário para produzir uma prática de jogo que ele ainda está almejando no campo das ideias. Ele tem pouca ou nenhuma referência prática, ele mal conhece videos de youtube, podcast, muito raramente um fórum de RPG (provavelmente o pior deles) e um blog. Com muita sorte ele conseguiu jogar uma mesa presencial e decidiu aprender um pouco mais sozinho depois. 

Daí que entra o perigo. O hobbysta iniciante vai sozinho procurar conteúdo, se depara com Informações picadas, meias verdades, teorias de "cargocult" (repetição de telefone sem fio que não se sabe a origem nem sequer se tem fundamento e é repetido como verdade) que se proliferam, confundem, atrasam e muitas vezes fazem o sujeito até desistir do hobby pela confusão que se meteu. Pelo fato dele não ter uma educação, uma organização mental para selecionar e absorver conteúdo útil.  

Infelizmente, a internet tem uma infinidade de "especialistas"  que se dizem experientes naquele estilo de jogo que o iniciante está interessado e que possuem a grande "verdade" sobre o tema (alguns usam de falsa modéstia para dizer que não sabem muito, mas querem ajudar, outros praticamente vestem a camisa de guru de seu próprio estilo e etc.) E como não existe curso aprovado pelo MEC para se aprender RPG, como também não existe Conselho Federal de RPGistas e na atualidade existem uma infinidade de estilos/sistemas de RPG por aí, todos válidos na sua própria proposta, por sinal, fica muito complicado do iniciante se educar. 

A falta de educação no consumo indiscriminado e desenfreado de informações conflitantes ditos somados pelo conteúdo de qualidade duvidosa feita por "especialistas" na base do "confia" em canais de fácil acesso, em que a autoridade do "professor" é baseada em likes, visualizações, aprovação de terceiros também famosos e coisas típicas de redes sociais. Se tem criança vendendo curso de coach e faturando, não duvide de mais nada online. 

Então, o que fazer? Não existe resposta fácil. Mas como tudo na vida, senso crítico é essencial. Eu já falei disso em outros textos e repito aqui: Não seja trouxa. Simples? Não. 

O que dá para dizer é que você deve ser seletivo no material que consome, precisa entender com o que de fato se identifica, não com o material que te bombardeiam online dizendo ser o melhor. Mas para isso precisa se queimar, vai ter que experimentar (quase) de tudo, pelo menos inicialmente. Mas seja atento, seja seleto assim que se sentir mais confortável. Se o conteúdo parecer prepotente, não parecer aplicável em jogo, não estar alinhado com o que você quer jogar, não insista, descarte. Foque no que faz sentido para o seu interesse. O nosso tempo de vida na Terra é curto, somos seres mortais e não tem tanta gente assim disposta a jogar qualquer RPG. Quem está já joga e tem seus próprios interesses no hobby. Então foque no que você realmente gosta. Mas é claro, caso você não sabe ainda do que gosta e  só está curioso, seja uma tabula rasa, vá sem preconceitos, absorva o que puder e mais tarde faça suas próprias escolhas. Mas muito cuidado com os charlatões.

Nem sempre um influencer famoso sabe o que está falando (ou quase nunca? Fica aí para reflexão), nem sempre o cara que se intitula designer de RPG e que já até publicou material, sabe o que está dizendo. Muitas vezes aquele cara legal e descolado do podcast entende o tanto que acha que entende de determinada faceta do hobby, por mais que ele use palavras difíceis e fale disso por horas a fio. 

Esteja sempre ciente do seu objetivo. E foque no que agrega à sua mesa. Qualquer conteúdo que pareça masturbação mental, teorização impraticável, trava língua, que exija curso de filosofia/Psicologia só para conseguir acompanhar, ou seja, que fuja do objetivo que é jogar RPG, que não seja  aplicável na prática de jogo, na diversão do grupo (ou cenar, se essa é sua vibe) apenas descarte, não perca tempo tentando decifrar a grande verdade transcendental que estão tentando te vender. Lembre-se, não é sempre que algo complicado é a melhor opção e vem de pessoas mais inteligentes que você. Talvez só seja confusa e alienante mesmo. 

Os conselhos que eu já dei em outros textos sobre fontes úteis se aplicam aqui da mesma forma. Se atente ao estilo que se identifica e a partir daí procure locais que falam desse estilo, mesas que aplicam esse estilo. Tem os bons e velhos blogs, forums e etc. Mas nada é melhor do que jogar. Jogar muito. Obviamente como jogador, principiante só começa mestrando se ele não tem alternativa mesmo. E hoje, com o mundo online à sua disposição, começar mestrando por falta de opção já não é mais desculpa. Ache uma mesa, presencial ou online, e jogue. Não gostou dessa? Procure outra. Gostou do estilo mas não do mestre? Troque de novo. Essa é a lógica, nada é definitivo, se adapte. 

E, para ser cliché, sempre procure aprender mais. Não existe verdade absoluta. E não existe só um professor. Qualquer um pode exercer esse papel. Só não fique fixado nos que adoram mais a própria voz do que jogar RPG. Procure conversar com pessoas de diversas vertentes, com experiências diferentes, talvez o estilo que tá logo ali agrega mais do que o que te venderam antes. Esteja sempre aberto a possibilidades. E leia muito. Módulos são ótimos. Nada melhor do que pegar um material feito por gente que realmente manja, que foi testado, jogado, re-jogado e absorver dele o que funciona, descartando o que não funciona. E a fonte mais importante de todas e que deixei por último não foi sem motivo.

Leia o livro de regras. É ele a primeira porta de entrada teórica que deveria ser a principal, mas no mundo de hoje, infelizmente não é. 

Hoje, online, em que a internet é abarrotada de informações a um clique ou toque, o livro é a última coisa que alguém se lembra em consultar. Não seja assim. Um livro (pelo menos em teoria) é o melhor lugar para se aprender, pois é um ambiente compacto, com ideias organizadas, que busca propor seu ponto com início meio e fim. Não passa um dia que eu vejo dúvidas sendo perguntadas em chats e fóruns que o livro de regras já respondeu a décadas. Perguntas que parecem razoáveis, mas que são tolas para qualquer um que tenha lido o livro. Nunca subestime o poder do livro. No nosso caso, o livro de regras do sistema de sua escolha, pois este tem a obrigação de te ensinar a jogar o jogo, o resto vem depois. Sempre tenha o livro do lado, para consultar, pra relembrar, para reler e reinterpretar. O livro ainda é seu melhor amigo. 

É isso, não seja mal educado. Ignore os ruídos, aprenda com qualidade. Seja seleto com as fontes que consulta. Leia o livro de regras. E jogue muito. 

   

Comentários

  1. Excelente texto... Como sempre, as pessoas preferem seguir caminhos apontados por outras, daí chegam apenas a lugares conhecidos, perdendo de vista outras possibilidades, às vezes até mais interessantes...

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  2. Não entendi, parece uma indireta e não tem o @ pra marcar

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    1. Como foi dito no texto. Essas são observações diárias no hobby. Tanto na parte nacional quanto gringa. Quisera eu que fosse algo isolado direcionado a apenas um indivíduo, seria algo pontual e não necessitaria de nenhum comentário. Mas infelizmente é comum e corriqueiro. Basta observar.

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