Brozer, o filho do #BrOSR (Calma, não é um novo estilo)
Como uma segunda parte do texto sobre #BrOSR decidi aproveitar e falar sobre a principal produção que vi do movimento e que muito boa, por sinal.
Fiquei sabendo sobre o Brozer a partir de uma excelente entrevista de um dos caras do movimento no canal do Macris no youtube . O video mostrava como o cara usava ACKSII junto com AD&D1e (especificamente tabelas de monstros, covil e etc) em seu jogo e com isso produzia campanhas estilo BrOSR "Braunstein" com tudo que tem direito.
Fiquei curioso e descobri que tinham lançado um livreto no dtrpg fui logo lá e baixei para conferir. E...recomendo. Foi a forma mais prática para ver como montar uma campanha que adota os elementos tão peculiares da BrOSR de uma forma bem simples e como funcionaria uma campanha nesse estilo.
Se você já leu sobre o BrOSR e sobre a parte que eles gostam ter na guerra cultural online, já sabem o que esperar sobre a forma que o texto é descrito. Mas não deixe isso te desanimar (você afinal, lê esse blog). Por baixo da forma escrita, tem muita dica útil para você diferenciar seu jogo para algo mais amplo com facções exércitos, conflitos regionais e etc. E não, eu não me abdiquei do CAG e ainda prefiro sua ótica para jogar D&D, mas eu não nego quando vejo algo bom de outra via rolando.
Então, sem mais enrolação, do que se trata esse tal de Brozer afinal?
O Brozer é basicamente o filho bastardo do Braunstein, aquele jogo experimental que veio antes do D&D e que já foi pincelado bem mais ou menos por aqui, só que feito com a galera da BrOSR, que resolveu dar um novo fôlego a esse estilo de jogo de novo.
O Braunstein nasceu nos anos 60, quando o David Wesely pegou um wargame e, entre uma batalha de campanha e outra deixou cada jogador controlar um personagem independente, com seus próprios objetivos, tramoias e politicagem, em vez do exército completo. O mestre passava de jogador em jogador, resolvendo a ação de cada um, sobre o que cada um fazia, e no meio disso, intrigas, conflitos, discórdia, acordos, trapaças tomava conta. Foi uma surpresa para todos como isso poderia ser tão divertido (como assim narrativismo no meu wargaming?) Foi disso que veio o Blackmoor, pois ninguém menos que o coautor de OD&D, Dave Arneson, participava dessas campanhas de Braunstein e graças a isso, veio vários dos elementos fundamentais que culminou no OD&D só que, com o tempo, e pelo que parece, desinteresse do seu próprio criador, o Braunstein meio que sumiu.
O documentário Secrets of Blackmoor, focado em dar luz às inúmeras contribuições de Arneson ao D&D, é extremamente útil para ilustrar como foi esse período proto D&D, inclusive citando o Braunstein. Altamente recomendado.
Décadas depois do termo originário, o "famigerado" BrOSR começou a revisitar o que consideram como o jeito original de jogar D&D (Aquele esquema citado no texto anterior: tempo real, domínio, política, facções) e acabou redescobrindo o Braunstein nessa bagunça. Começaram a rodar os próprios jogos nesse estilo. Cada jogador com um papel, cada um tentando empurrar a demanda de sua própria facção em cima dos outros jogadores, e o mestre virando uma espécie de árbitro no meio do caos.
Os conceitos a que chegaram foram esses:
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Vários jogadores, cada um com seu personagem ou facção.
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Todo mundo tem objetivos diferentes (geralmente conflitantes).
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As ações são resolvidas separadamente, muitas vezes em segredo.
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O jogo rola sob uma espécie de Fog of War (Ninguém sabe de tudo o que está acontecendo.)
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Quando dois jogadores colidem, o mestre arbitra como em um RPG normal.
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E o resto se resolve com diplomacia, conspiração e trairagem.
Não diria que é literalmente o oposto de jogar em grupo como em D&D Clássico, pois isso ainda tem abertura de acontecer, mas qualquer aliança momentânea, frágil e secundária. O jogo é dominado por política, guerra e caos, tentando trazer de volta o melhor que o estilo Braunstein tem a oferecer.
Com o tempo, o BrOSR foi refinando esse estilo. Eles tiveram o que chamaram de “Summer of Stein”, uma época em que vários Braunsteins pipocaram simultaneamente. O Jeffro Johnson (um dos líderes da cena) chegou até a testar uma variação chamada “Total Nonstop Braunstein”, aplicando o formato em um jogo de Traveller.
Depois desse burburinho, gente que estava ligada ao documentáro sobre Blackmoor levantou um ponto de que a BrOSR estava “usando o termo Braunstein errado”. Ele queria que cada grupo criasse o seu próprio “-stein”, tipo “Mars-stein”, “Elf-stein” e etc. Fazia sentido dentro da ótica de diferenciar os estilos.
A resposta da BrOSR foi fazer tipo um mutirão aonde todos se juntam para construir algo grande em pouco tempo. Em 5 ou 6 semanas, lançaram o Brozer.
O nome vem da mistura de “Bro” (irmandade, camaradagem, a vibe da BrOSR) com “Braunstein”. E o livro é uma mistura de facções (feitas para ilustrar o estilo), conselhos práticos e um guia pra quem quer rodar o estilo Braunstein pela ótica dos BrOSR's, sem perder anos experimentando sozinho.
O Jeffro diz que o Brozer é o jeito mais rápido de entender o que o Braunstein realmente é: você lê, joga, e pronto, simplesmente entende. Sem a necessidade de texto acadêmico com termos que precisa de dicionário para entender o contexto. É uma introdução prática ao caos criativo que dá origem a campanhas vivas tanto pregada por eles.
Eles deixaram claro que não iam colocar exemplo de jogo nenhum, porque seria impossível acompanhar (já que tudo acontece ao mesmo tempo).
O Brozer também captura uma coisa que o RPG moderno esqueceu: o fato de que conflito é o coração do jogo. Sem conflito, não existe drama, não existe história. O Braunstein é o contrário de “todo mundo no mesmo time contra o mestre”. É cada um por si, e o mestre só segura a onda para que o mundo não desabe na cabeça dos jogadores.
O resultado é um jogo com clima de guerra fria e drama político (o bom drama, não o internet drama). Alianças, espionagem, blefe e traição. E, no meio disso tudo, o mapa do mundo vai se modificando a partir dos conflitos e ideias dos jogadores se chocando.
Resumidamente, o BROZER é um manifesto prático da BrOSR: é jogar com propósito, conflito, risco e consequências. É recusar o conforto do domínio narrativista e da 5e, e voltar pro que fazia o RPG ser imprevisível.
E tem também a filosofia por trás, o BrOSR vê o jogo como uma forma de vida disciplinada: manter o foco, ter rotina, valorizar os espaços que torna esses jogos tão divertidos e, claro, jogar com seriedade e fé no que o jogo representa.
No fim, o BROZER é o ponto de encontro entre o resgate do Braunstein, o caos criativo do jogo, a cultura da BrOSR e a vontade de mostrar que ainda dá pra fazer algo realmente novo sem precisar vender a alma em financiamento coletivo só por uns trocados e pelo hype.
Baseado nos textos sobre Brozer:
https://thecompleatdm.substack.com/p/brozers-and-braunsteins
https://jeffro.wordpress.com/2024/10/30/secrets-of-brozer
Download em:
https://www.drivethrurpg.com/en/product/497682/brozer-island-of-war-and-winter
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